O “Grande Hotel do Olivetti” em Campos do Jordão – 2021 – Um Século de Histórias!

No palacete, está escondido, virtualmente, todos os acervos, arquivos e espaços da nossa história... Cem anos de história dos tempos antigos.

por: Redação ( 3 anos atrás - quinta-feira dia 7 de janeiro de 2021 ) - Atualizado: 10/01/2021 21:35
Tempo de Leitura: 8 minutos

por: Maurício de Souza Lino (Historiador e Pesquisador)

Imagem Atual do Palacete Olivetti

O Palacete Olivetti enriquece a história de Campos do Jordão. Neste ano de 2021, o Palacete Olivetti – um dos cartões postais de Campos do Jordão – completa 100 anos. Quem o visita, nem imagina que ali está uma construção centenária. Sua arquitetura esconde a antiguidade da construção de estilo internacional. É o Cartão Postal de Vila Abernéssia em Campos do Jordão.

O piso do Hall, os detalhes do forro das salas, hoje ocupadas por muitas salas que antes, foram quartos de pensão, preservam a memória. Para os apaixonados por história, arte, cultura e respeito à memória, o Palacete Olivetti é um espaço vivo para manifestações populares. É um belo exemplar arquitetônico de uma época que passou, mas continua viva pelo valor histórico e centenário. Quantos sonhos, amores, memórias se passaram pelo Palacete Olivetti? Este ambiente possui importância histórica, cultural e social para Campos do Jordão e região.

No palacete, está escondido, virtualmente, todos os acervos, arquivos e espaços da nossa história… Cem anos de história dos tempos antigos. Muitos elementos da construção original, ainda continuam presentes.

Próspero Olivetti vindo da Itália, criou raízes no Brasil e em Campos do Jordão, fixou residência. Grande figura, projetou-se nos meios sociais. Dentre os filhos, Rosinha Olivetti, Maria Olivetti e Paschoal Olivetti. Quando Campos do Jordão era Distrito de Paz da Comarca de São Bento do Sapucaí, nos anos 1903, 1904 e 1910, Próspero Olivetti foi o primeiro suplente e Subdelegado de polícia.

De 1914 a 1919 foi carpinteiro e marceneiro, com seu colega, Evaristo Afonso Pereira. Após a criação da Subprefeitura em 1º de fevereiro de 1918, foi subprefeito, no período de 1924 a 1926, ano que pediu exoneração do cargo. Foi vice-prefeito da prefeitura sanitária na administração do prefeito Coronel Oscar Barcellos, em 1926. Também foi Agente de Telégrafo.

Próspero Olivetti foi membro da Diretoria do Círculo Republicano de Campos do Jordão e participava de vários comícios. Sua diretoria era formada por Francisco Perrone Netto, presidente; Roberto John Reid, vice-presidente; Arlindo Pinto da Costa, secretário; José Avelino da silva; Ignácio de Carvalho; Eugenio Henrique Monteiro; Rogerio Feliciano de Godoy; e seu filho, Paschoal Olivetti.

Em 1921, o Bispo Diocesano de Taubaté, Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, nomeou-o para a Comissão de Obras da Igreja Matriz e da Casa Paroquial.

Foi Vice-presidente da nova diretoria do Sport Club Campos do Jordão em 1926. Em 1937, Floriano Rodrigues Pinheiro, concedeu-lhe o diploma de sócio honorário do Cine Jandyra.

Foi um dos primeiros comerciantes de Vila Abernéssia. Nos anos de 1916 e 1917, construiu alguns prédios em vila Abernéssia, modernos para a época, que permanecem até os dias de hoje.

Próspero Olivetti construiu na Avenida Brigadeiro Jordão, três grandes prédios. O maior e mais destacado deles é o Palacete Olivetti, com dois andares superiores. Conhecido como “Grande Hotel do Olivetti”, possuía 30 quartos.
Construído a partir do ano de 1919 e inaugurado no ano de 1921, na administração do subprefeito, Tenente da Marinha Nacional, Ernesto Brito Chaves, (1918 -1921).

O imponente Palacete Olivetti, considerado o mais antigo edifício de Campos do Jordão, sempre atraiu a atenção de quem transita pela Avenida Brigadeiro Jordão. Apresenta características arquitetônicas de inspiração europeia (italiana). Seu construtor, Carlos Oliveira Rocha, português, natural de Castelo de Paiva, havia chegado em Campos do Jordão no ano de 1918.

Migrantes portadores da tuberculose pulmonar buscavam a cidade de Campos do Jordão como possibilidade de cura da doença, em virtude do fator climático que era propagado como essencial à cura desta moléstia. Ao chegarem, buscavam vagas em sanatórios ou em pensões, dependendo da sua condição financeira.

As pensões antecederam a construção dos sanatórios e foram primordiais para a acomodação dos doentes que chegavam à cidade.

Essas pessoas vinham para Campos do Jordão em busca do clima como tentativa para a cura da terrível doença, considerando que, na época, ainda não existia qualquer tipo de medicamento destinado a essa finalidade.

No início de 1932 a 1941, o prédio serviu como Pensão-Sanatório, destinado ao abrigo de pessoas tuberculosas para ambos os sexos, de propriedade do Sr. Hans Hanbensak, com 30 leitos e mensalidades entre 400 e 600 mil réis.

Imagem do Palacete Olivetti como sendo Pensão Sanatório Campos do Jordão

No dia 01 de junho de 1936, a pensão foi transferida para o sr. Emílio Luiz de Brito, e foi fechada em 17 de julho de 1937. Em novembro do mesmo ano, foi reaberta, sob a responsabilidade do sr. Próspero Olivetti.

Na parte térrea do prédio, existia a “Pharmácia Olivetti”, de propriedade de seu filho, Paschoal Olivetti, e uma Leiteria.

Nesse mesmo espaço, posteriormente, por vários anos, serviu como escritório de advocacia do advogado Dr. Raul Barbosa Lima, irmão do médico pioneiro de Campos do Jordão, Dr. Plínio Barbosa Lima, vitimado por um desastre aéreo em 24 de dezembro de 1924.

Nas outras portas, durante algum tempo, abrigou a segunda sede da Casa da Lavoura de Campos do Jordão, fundada na década de 1950, pelo Engenheiro Agrônomo, Shizuto José Murayama.

O Palacete Olivetti abrigou, posteriormente, de 1958 a novembro de 1983, o Hotel Montanhês, de propriedade do casal, Wolfgang Böhme (Sr. Wolf), formado em curso de cozinha na Alemanha, e sua esposa, Erika Böhme.

Imagem do Palacete Olivetti – Já como Hotel Montanhês em 1960

Wolfgang Böhme foi um dos tripulantes do navio alemão que, no dia 21 de julho de 1939 partiu da Alemanha com destino à África do Sul, transportando 400 passageiros e 250 tripulantes.

Os passageiros tinham como objetivo participar de safáris ou negócios comerciais. Já em plena África do Sul, a terrível a notícia do início da Segunda Grande Guerra Mundial no dia 01 de setembro de 1939.

Em plena Guerra o navio Windhuk passou a ser perseguido e teve que fugir das embarcações da marinha inglesa e, por isso, acabou por desviando a sua rota de retorno, aportando primeiramente em Angola e depois, acabou ancorando no porto de Santos no dia 07 de dezembro de 1939.

Terminada a guerra no dia 02 de setembro de 1945, depois de ficarem aprisionados em campos de concentração no Vale do Paraíba, muitos em Pindamonhangaba, de 1942 a 1945, foram libertados.

Vários desses tripulantes vieram para Campos do Jordão para trabalhar nos tradicionais e maravilhosos – Hotel Toriba e Grande Hotel. Cada tripulante do navio tinha as suas especialidades profissionais.

O Palacete Olivetti foi residência da família Wolfgang Böhme até 1962, quando se mudou para a Vila Fracalanza.

Vendido no início da década de 2000, serviu como sede da prefeitura municipal até 2004. Hoje em seu térreo funciona a Cervejaria Dom Sabor e em seus andares superiores várias outras lojas.

Paschoal Olivetti, filho de Próspero Olivetti, conceituado químico e farmacêutico, figura de projeção nos meios sociais, estudou Farmacologia (Física, Química, História Natural), na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e na Escola de Farmácia de Pindamonhangaba. Foi nessa época, em decorrência da I Grande Guerra Mundial, em vista do torpedeamento do Vapor brasileiro “Guahiba”, pelos alemães, que Paschoal Olivetti e seus colegas estudantes da 2ª e 3ª series do Curso de Farmácia, participaram de um manifesto – abaixo-assinado – dirigido ao sr. Ministro da Guerra.

Alegando possuir os conhecimentos necessários da matéria química, ofereceram seus serviços como práticos de química nos laboratórios onde se prestavam os materiais bélicos para a defesa da Pátria.

Após sua formatura em 1917, químico e farmacêutico, abriu a Pharmácia Olivetti, no térreo do Palacete. Com uma filial em Vila Capivari, Dr. Paulo Bulcão Ribas, filho do Dr. Emílio Ribas trabalhou ali, no ano de 1927.

Paschoal Olivetti em 1924 foi eleito para o Conselho Deliberativo, na recém fundada obra filantrópica, Liga Beneficente, que tinha como objetivo a profilaxia e o combate à tuberculose, assistência aos indigentes, criação de um dispensário, construção de um sanatório popular, obras da preservação da Infantaria.

Nesse ano, para a coleta de fundos para manter os serviços, foi realizado uma festa na Pensão Azul, com uma conferência do dr. Sampaio Dória sobre a caridade e de experiências de radiotelefonia em um aparelho trazido pelo dr. Macedo Soares, instalado no salão da Pensão.

Em 10 de fevereiro de 1930, Paschoal Olivetti, foi eleito 2º secretário da Caixa Beneficente da Irmandade São Benedito, para a capela de São Benedito.

Em 16 de agosto de 1939, foram constituídas várias barracas para angariar recursos para a conclusão da Matriz de Santa Teresinha. Construídas, a barraca sul-americana ficou assim constituída: Américo Richieri, Raul de Oliveira, Fernando Guarinon Zen, Aldo Astolfi e Paschoal Olivetti.

Em 8 de março de 1942, reuniu-se uma outra sociedade para deliberar sobre a compra de um terreno a fim de edificar um novo cinema para a cidade. Uma comissão constituída por Lourival Francisco dos Santos, Aristides de Souza Mello, Luiz de Mello Matos, Pedro João Abitante e Paschoal Olivetti, foi nomeada para a escolha e avaliação do terreno.

Paschoal Olivetti foi escrivão em Campos do Jordão, no período entre 1924 a 1927, e Primeiro Tabelião de Notas e Seus Anexos da Comarca de Campos do Jordão em 1946.

Seu enlace matrimonial se deu na Basílica Nossa Senhora Aparecida em São Paulo, com a srta. Helena Giaretta, de tradicional família paulistana. O ato religioso foi oficiado pelo monsenhor Dr. Mac-Dowell, vigário da Matriz de São Francisco Xavier da cidade de São Paulo, que celebrou antes a Santa Missa, onde os nubentes receberam de seus paraninfos, dr. Raul Peixoto Guimarães e esposa, Alzira de Matos Guimarães, a santa comunhão.

No ato civil foram testemunhas, Dr. Marcilio Vieira de Mello, Deputado Federal e sua esposa, dona Vera de Mello e Tenente, Antonio Vaumelotti e sra. Julieta Mello Hempel. Reuniram-se no Grande Hotel Royal de São Paulo, onde ofereceram lauta mesa de doces e champagnes.

Paschoal Olivetti foi um assíduo participante de concursos de desenho da Revista “O Malho”, no suplemento “Jornal das Crianças, Tico-tico”.

Este ano, o Palacete Olivetti completa 100 anos, mas o Cartão postal da cidade sofre com a falta de manutenção.

Os problemas encontrados precisam, urgentemente, serem restaurados para serem transformados em um espaço cultural de mostras permanentes e temporárias

Inaugurado em 1921, na época, chamado de “Grande Hotel do Olivetti”, não é tombado pelo Patrimônio Histórico.

A última reforma do prédio aconteceu em 2000, quando a administração pública ficou sediada ali. Desde então, muito pouco foi feito pelo espaço.

Não há como culpar alguém, pois todos que passaram por ali, falharam. Todos tiveram sua parcela de culpa pelo desconhecimento do valor e da conservação do patrimônio histórico. É fato que a manutenção, normalmente, é cara, pois é feita por pessoas especializadas. Mas, o poder público tem como destinar ou fazer projetos que possam gerar fomento para cuidar desses espaços. É uma questão de cuidado e valorização histórica. Acredito ser ideal investir em sua restauração.

Este ano, em comemoração ao centenário, o prédio deve passar por obras de restauração, especialmente no que diz respeito à sua infra-estrutura, como a recuperação das escadas e das instalações elétricas e hidráulicas, entre outras melhorias, para continuar a ser apreciado pelos jordanenses e turistas que passam pela cidade.

A Câmara Municipal deveria promover sessão solene em comemoração aos 100 anos do prédio do Palacete Olivetti, o mais antigo da cidade. É um reconhecido patrimônio cultural, social e histórico e possui ligação estreita com a memória da cidade. A obra arquitetônica desse prédio tem história.

Fontes de pesquisa:
Jornal “Correio Paulistano”, de 25 de agosto de 1904;
Jornal “Gazeta de Notícias”, de 26 de novembro de 1915; 19 de março de 1924;
Jornal “Tico-Tico”, de 29 de março de 1911;
Jornal “A Noite”, de 03 de novembro de 1917;
Revista “Gazeta da Farmácia”, de julho de 1948, ano XVII nº 1950;
Revista “Almanak Laemmert”, Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ), de 1891 a 1940.
PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp. 784
PRINCE, Ana Enedi. Estância Climática de Campos do Jordão: Sanatórios e Pensões e a Luta contra a Tuberculose. I edição. Vol III. 2017. Taubaté. Ed. Cabral Universitária. Pp. 312.
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. 2016. Clube de Autores. Pp. 686.

Imagens:
Edmundo Ferreira da Rocha;
Campos do Jordão Cultura (www.camposdojordaocultura.com.br)

Google;
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Historiador e Pesquisador:
Maurício de Souza Lino.

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