Neve em Campos do Jordão, saiba tudo a respeito

Na Serra da Mantiqueira e no sul do Brasil, a neve segue a linha das araucárias.

por: Redação ( 3 anos atrás - quinta-feira dia 29 de julho de 2021 ) - Atualizado: 08/08/2021 18:02
Tempo de Leitura: 8 minutos

por: Maurício de Souza Lino (Historiador e Pesquisador)

A neve é um fenômeno meteorológico que ocorre a partir do vapor de água existente dentro das nuvens. Se estiver frio o bastante, este vapor não se condensará em gotículas de água, mas sim como pequeninos cristais de gelo, ocorrendo a sublimação. À medida que o cristal de neve se move pela nuvem, mais partículas de água e neve vão se agregando ao cristal. O acúmulo de cristais individuais forma o floco de neve. À medida que vai ficando mais pesado, o floco de neve cai em direção a terra. Se a temperatura em todo o percurso até o chão estiver fria o suficiente, o floco ainda estará congelado quando chegar ao solo.

Nevada no Brasil não chega a ser um fenômeno raro, porque em Santa Catarina e no Paraná, de tempos em tempos, o campo amanhece coberto por um lençol branco.

A grande dificuldade para a ocorrência da neve na Serra da Mantiqueira reside do fato de ela estar em latitudes tropicais, o que ocasiona um regime de chuvas que tende a se concentrar durante o verão. A redução na média pluviométrica durante o inverno registrada em Campos do Jordão, não ocorre nas serras gaúchas e catarinenses, que tem neve em praticamente todos os anos.

O registro de neve na Serra da Mantiqueira não é uma exclusividade jordanense. Já ocorreram precipitações em Monte Verde, Pedralva e Camanducaia, todas no sul de Minas.

No Maciço de Itatiaia no Rio de Janeiro, o fenômeno ainda se apresenta em média uma vez a cada três anos. A nevada ocorrida no alto do Itatiaia em 12 de junho de 1985 foi tão intensa e espetacular, que da rodovia Presidente Dutra, na altura de Resende-RJ, foi possível avistar os cumes das montanhas brancos e com um intenso brilho provocado pela neve, que teimou em permanecer nos picos por quatro dias, apesar do sol.

Na Serra da Mantiqueira e no sul do Brasil, a neve segue a linha das araucárias, ou seja, onde há esta árvore, significa que, teoricamente, há possibilidade de queda de neve, mas em geral, nos estados da região sudeste o fenômeno sempre ocorrerá acima dos 1.500 metros de altitude.

O clima de Campos do Jordão já não é mais o mesmo e está bem mais quente que no passado. Estudos dizem que nos dias atuais, as temperaturas médias durante o inverno, estão pelo menos 1.7ºC mais altas que as temperaturas do início do século XX, e para este mesmo período, hoje chove pelo menos 33 mm a menos do que naquela época.

Campos do Jordão está hoje com um clima mais amenos devido ao aumento das temperaturas dos últimos anos, aumento da malha urbana, diminuição da área florestal com a derrubada das matas nativas etc. Com isso, o fenômeno da neve, definitivamente deixou de existir na cidade. Mesmo entre os moradores da cidade existe o consenso de que o clima da cidade mudou muito.

As geadas, que no passado, ocorriam em média 46 dias por ano, hoje estão cada vez mais escassas. Em 1892 a 1897, as nevadas pelas terras jordanenses eram muito mais prolongadas e intensas. Precipitações de neve em Campos do Jordão, segundo alguns jornais:

  • 1892 – Segundo relatos, entre 1892 e 1896 ocorreram outras duas nevadas, mas todas de pouca intensidade: Em maio começa o inverno nos Campos do Jordão. É o tempo das grandes geadas noturnas, o dos claros dias, lindíssimos, de deliciosa pureza celeste, o frio seco e o ar muito fino, de uma doçura divina.
  • 1896 – Sob o fino lençol de neve, que amanhece pelos cerros, e que o primeiro sol derrete, murcham, então, rapidamente as ervas todas. O campo adquire um tom pardacento e tristonho. Só os pinheirais resistem verdes, enquanto o mais, arbustos e árvores despidas, esperam, na melancolia esquelética dos seus braços hirtos, pelas alegres rejuvenescências verdes e ridentes de setembro promissor.
  • 1916 – Antigamente, em dias frios com formação de geada, havia formações de grossas placas de gelo nas poças d´água, onde o gelo se mantinha, em alguns casos, até ao meio dia. No livro de Balthazar de Godoy Moreira, há um comentário sobre o frio de antigamente, numa passagem o autor descreve:
    “Em 1916, na Guarda (hoje Horto Florestal), fazíamos sorvete às 03 horas da tarde com o gelo que colhíamos de manhã, nas poças d´água ou bacias que deixávamos cheias ao relento…” (Balthazar de Godoy Moreira – E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba).
  • 1921 – Em Campos do Jordão, a linda e pitoresca estância tão recomendada para os enfermos de moléstias dos brônquios, o termômetro marcou, nos dias 16, 17 e 18 de junho de 1921, – 12º. Frio siberiano, temperatura polar. A neve, num vasto e imaculado lençol, cobriu os campos, atulhou de gelo as estradas e as encostas das montanhas, destruindo, requeimando vinhedos e outras plantações. (Jornal Arealense de 18 de junho de 1921).
  • 1928 – No longínquo ano de 1928, mais precisamente em 31 de julho, a neve veio forte e intensa naquele dia, e começou a cair por volta das 2h da madrugada, estendendo-se sem parar até às 10h da manhã, acumulando 20 cm de espessura e se tornando a mais intensa nevada ocorrida na cidade. Junto com aquele frio todo vieram alguns percalços provocados pelo excesso de congelamento que provocaram o estouro dos canos d´água, fazendo com que as torneiras se negassem a fornecer água. Os galhos das árvores arqueados pelo peso da neve que se quebravam aqui e ali. A cena foi presenciada por pouco mais de uns 5000 moradores que habitavam a cidade, que mais parecia uma vila naquela época.
  • 1933 – Comunicam de Campos do Jordão que a onda de frio que se vem estendendo, há dias, do Sul, atingiu dia 21 de junho àquela cidade tendo caído uma forte camada de neve. O panorama local foi transformado, parecendo que sobre os campos havia sido colocado um interminável lençol (Diário da Noite, 22 de junho de 1933).
  • 1936 – Frio que mata! Nas outras cidades, onde tem caído intensas geadas, a temperatura é de 6 graus abaixo de zero. Receia-se que as geadas tenham causado enormes estragos á lavoura. Campos do Jordão está coberto de neve desde sábado de manhã. Continua a soprar do sul vento muito frio (Jornal “A Noite”, 10 de agosto de 1936).
  • 1939 – No dia 30 de abril, enquanto o carioca se queixa do calor nesta temperatura senegalesca que nos abafa, a todos, a poucas horas do Rio de Janeiro, ali em Campos do Jordão, cai neve. A queda de neve em Campos do Jordão, constitui, certamente, um motivo de curiosidade e de interesse (O Estado, 08 de março de 1939). No dia 30 de setembro de 1939, já na estação da primavera, de acordo com o calendário oficial, Campos do Jordão foi visitado pela neve e chuva de pedra. Os jardins, as casas e a campanha ficaram atapetados de branco. E era interessante ver as árvores verdes, surgindo da terra gelada, como se a primavera houvesse rebentado antes do degelo. (Revista O Malho, 1939).
  • 1947 – Outra nevada que proporcionou um charme todo especial à cidade, ocorreu em 11 de junho de 1947, quando nevou por 3 horas consecutivas. Precipitou-se o fenômeno da neve, oferecendo um espetáculo maravilhoso aos habitantes do município.
  • 1951 – Campos do Jordão foi sempre chamada “A Suíça Brasileira”. Não quis a cidade, desmentir o título. E o confirmou até nos detalhes, quando, de manhã de um frígido dia de julho, a casa da Vila Natal, de propriedade do sr. Oscar Reynaldo Muller Caravellas, despertou coberta por um manto alvo. Era a neve. Foi uma cena europeia (Jornal de Notícias, 02 de setembro de 1951).
  • 1953 – Nesta data, 09 de julho de 1953, segundo notícias procedentes de Campos do Jordão, a temperatura nesta localidade está abaixo de zero, nevando constantemente. (Correio Paulistano, 09 de julho de 1953).
  • 1964 – A neve voltou a encantar os moradores e turistas na noite de 27 de julho de 1964, quando nevou em Campos do Jordão durante uma hora. Naquela noite havia tanto gelo na atmosfera, que a ponte aérea Rio – São Paulo teve que ser fechada, pois o acúmulo de gelo nos aviões fazia com que esta rota se torna demasiadamente perigosa para a segurança dos voos. O frio era muito intenso e provavelmente neste dia foi registrada uma das menores temperaturas já registradas na cidade, -8.0ºC. O Livro de Tombo da matriz Santa Terezinha, registrou que, em 27 de junho de 1964, nevou durante meia hora em Campos do Jordão, a partir das 17 horas, quando a temperatura caiu repentinamente para 6 graus negativos. O fenômeno ocorreu, notadamente, na região do Palácio Boa Vista.

2021 – Desde o ano de 1964, até os dias de hoje, não mais ocorreram precipitações de neve no município, mas ocorreram em outras regiões da Mantiqueira. Hoje em dia a geada está escassa e visivelmente mais fraca, formando um gelinho aqui outro ali e que mal dura até às 9h da manhã.

Fontes de Pesquisa:
Jornal “Diário de Notícias”, de 25 de agosto de 1891;
Jornal “Diário da Noite”, de 22 de junho de 1933;
Jornal do Brasil, de 22 de junho de 1933;
Jornal “Correio de S. Paulo”, de 08 de agosto de 1936;
Jornal “O Estado”, de 08 de setembro de 1939;
Jornal de Notícias, 02 de setembro de 1951;
“O Jornal”, de 31 de julho de 1928;
Jornal “Correio Paulistano”, 09 de julho de 1953;
Jornal “Correio da Manhã”, de 02 de agosto de 1964.
Pedro Paulo Filho, História de Campos do Jordão, 1986; Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão,1988;
Rodolfo Souza, A Neve no Brasil – Dissertação de mestrado – FFLCH – USP;
Revista “Aero Magazine”, Rubens J. Villela, artigo sobre formação de gelo em aeronaves;
Balthazar de Godoy Moreira, “E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba”.

Crédito das fotos:
Edmundo Ferreira da Rocha http://www.camposdojordaocultura.com.br/
Marcelo Romão: especialista em Meteorologia – [email protected]
Revista “O Malho”, 1939;
Condelac Chaves de Andrade, Almanaque – ano 1940.

Links:
http://rtr.110mb.com/pg/diversos/diversos.html

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