O Diretor Artístico do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, Maestro Roberto Minczuk, respondeu a algumas perguntas da NetCampos sobre o maior evento da música clássica da América Latina. Confira os melhores momentos da entrevista:
Roberto Minczuk -As duas artes sempre estiveram juntas, primeiro em manifestações religiosas que aconteciam há séculos e depois, uma inspirando a outra. Então, foi fácil chegar a essa escolha, porque o resultado sempre é fabuloso.
NetCampos - Pelo quinto ano como Diretor Artístico do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, como você vê o resultado do trabalho de levar música de alto padrão em uma cidade vitrine como Campos do Jordão?
Roberto Minczuk - Quando o Festival chegou a Campos do Jordão a cidade não tinha o glamour que carrega hoje. Ainda era uma estância com excelente clima, mas somente alguns anos depois é que os turistas passaram a eleger Campos como o hot spot do inverno. Naquela época, o pensamento fundamental que levou o Festival até as montanhas era somente o de se fazer no Brasil um evento inspirado em Tanglewood, como a Sinfônica Boston faz durante o verão. A união de clima frio com música de ótima qualidade sempre teve grandes resultados. O frio induz à introspecção, à concentração tão necessárias para a prática da boa música. Eu acho que é um dos melhores lugares do Brasil para um Festival desse nível.
Roberto Minczuk - Alguns dos bolsistas que se destacam às vezes conseguem vagas nas grandes escolas européias e americanas em que os professores que passam pelo Festival de Inverno dão aulas. Vão estudar na Academia Santa Cecília de Roma, no Conservatório de Berna na Suíça, na Manhattan School of Music em Nova York, por exemplo, com professores que conheceram durante o Festival. Isso faz toda a diferença na formação acadêmica e profissional, porque nessas instituições travam novos contatos e um mundo enorme se abre para eles. É uma grande oportunidade para quem se empenha e sabe aproveitar as oportunidades que aparecem pela frente.
NetCampos - Em relação ao ano passado, qual é a expectativa para este ano e quais as novidades estarão em cena neste Festival?
Roberto Minczuk - Neste ano temos o melhor time de professores já reunido em Campos. Além dos grandes nomes que habitualmente dão aulas ou master classes, como Kurt Masur, Antônio Meneses, Jean-Louis Steuerman, os alunos terão aulas com mestres como Michael Collins, que é considerado hoje o melhor clarinetista do mundo; Glenn Dicterow, que é o spalla da Filarmônica de Nova York, etc. Como de hábito, não se mexe em time que está ganhando, mas pela primeira vez contaremos com a participação dos corpos estáveis do Theatro Municipal do Rio de Janeiro; o compositor residente será João Guilherme Ripper, que além de ter uma obra estreada pela Orquestra Acadêmica, ainda terá outras muitas peças tocadas durante o Festival, dando continuidade à idéia de divulgar a produção musical brasileira; o Empire Brass, um dos maiores conjuntos de metais de todos os tempos, também vai marcar sua presença com um recital e um concerto, além de aulas para os bolsistas, dentre outras tantas atrações.
NetCampos - Praticamente metade dos espetáculos terão apresentações gratuitas. Como funciona esta intenção de oferecer música clássica à pessoas que não querem ou podem pagar, mas tem interesse em absorver arte?
Roberto Minczuk - Se engana quem diz que música clássica é assunto para iniciados. Basta você gostar e já faz parte desse imenso grupo de pessoas que aprecia a boa música.
Então, nada mais justo que boa parte da programação possa ser acessível, não só por aqueles que às vezes sentem um certo receio de entrar nas salas de concerto, mas também por aqueles que gostam de ouvir música num ambiente mais informal, como na Praça do Capivari.
A música deve ser acessível e não pode, em hipótese alguma, ser um trunfo nas mãos de poucos. Alguns dos concertos que nos deram mais prazer em realizar nessas últimas edições do Festival foram justamente aqueles realizados ao ar livre, com uma calorosa acolhida do público, que reconhece que o nosso trabalho é feito para o grande público.
Roberto Minczuk é o diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica Brasileira da Cidade do Rio de Janeiro, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, da Filarmônica de Calgary, e diretor artístico do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.
Pela sua batuta passaram as orquestras filarmônicas de Nova York, Los Angeles e Israel, orquestras da Filadélfia e Minnesota; sinfônicas de St. Louis, Atlanta, Baltimore, Toronto e Ottawa, dentre outras. Na Europa, regeu as sinfônicas da BBC de Londres e de Cardiff; as filarmônicas de Londres, Oslo, Hallé, Rotterdam; as orquestras nacionais da França, Lyon e Royal National Scottish.
Minczuk recebeu nos últimos anos os seguinte prêmios: Martin Segall, o Grammy Latino de Melhor Álbum Clássico com o CD Jobim Sinfônico, um projeto concebido por Mário Adnet e Paulo Jobim, o Emmy, o APCA como Melhor Regente de 2006 e o Prêmio Carioca do Ano de 2007, concedido pela Revista Veja Rio.